Por COSME RÍMOLI
Entre 2014 e 2015, jogador recebia por contrato de exclusividade da emissora. Como funcionários poderiam criticar um contratado, um colega de trabalho?
Todo o tratamento que a Globo dispensou a Neymar em 2014 e 2015, quando ele se firmou como grande ídolo no país, não foi por acaso. Primeiro, por seu talento fabuloso.
Depois, por um motivo nada edificante. Neymar era funcionário da emissora carioca. Contratado.
Entre 2014, época da Copa do Mundo no Brasil quando o país precisava de um ídolo, e no ano seguinte, 2015, período da disputa da Copa América do Chile, quando a Seleção buscava se recuperar dos 7 a 1.
"O contrato citado não existe mais. Firmado em 2014, referia-se a participações especiais de Neymar em programas e em campanhas da emissora, bem como ao uso de conteúdos audiovisuais produzidos pelo jogador", respondeu a emissora à Folha de S.Paulo, veículo que descobriu e expôs o vínculo.
A situação foi perfeitamente legal. Mas questionável eticamente. Por vários motivos. Transmitir jogos, comentar, elogiar ou criticar as participações de Neymar na partidas da Seleção Brasileira e do Barcelona, teve de ser diferente. Porque Galvão Bueno, Casagrande e Júnior estavam analisando o desempenho de um colega, de um contratado da Globo.
Pior ainda foi com Ronaldo Fenômeno. Além de ser membro do Comitê Local da Copa, sua agência de marketing esportivo, a 9ine, era contratada de Neymar. Ela tinha a obrigação de encontrar empresas dispostas a pagar por publicidade do jogador. Ronaldo tinha de cuidar também da imagem do atleta. Era incompatível criticá-lo durante jogos, treinos ou qualquer atitude durante a Copa, com o microfone da Globo. Algo absurdo.
Como acreditar em cada elogio de Ronaldo a Neymar?
Ele era pago para enaltecer a imagem do atacante.
Em qualquer lugar.
Segurando o microfone da Globo não era exceção.
No contrato, a Globo tinha Neymar para o que quisesse: entrevistas, matérias, programas, participou até de novela. Por isso que, depois dos treinos e dos jogos, era comum o atleta procurar repórteres da emissora e falar. Ao mesmo tempo que fugia das concorrentes. Tinha de fazer isso, por contrato.
Para ficar claro como era a relação com as emissoras concorrentes da Globo, vale destacar este trecho da matéria escrita por Alex Sabino e Diego Garcia.
"Em um e-mail de 21 de julho de 2015, o ex-assessor de Neymar Eduardo Musa alerta ao pai de Neymar sobre uma entrevista dada à apresentadora Xuxa, da TV Record.
A Globo fazia o que queria com Neymar. As demais emissoras eram esquecidas
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“Ney, como te adiantei por telefone, a assessora da Xuxa me pediu para que ela fizesse uma visita no instituto junto com o Neymar Jr (…). Como você me orientou a agendar a visita, sugeri para ela na quinta-feira (…). Como te falei, estamos infringindo o contrato da Globo”, afirma Musa.
Apesar do receio, a entrevista foi concedida no mesmo mês e transmitida em programa que estreou em agosto daquele ano na TV Record."
Este é ainda mais específico.
"Enquanto foi contratado da Globo, Neymar participou diversas vezes de programas da emissora. Foi ao “Domingão do Faustão”, em maio de 2014, além de ter enviado vídeos para participações esporádicas em outras ocasiões da atração, como em homenagens ao cantor e amigo Thiaguinho e à namorada, a atriz Bruna Marquezine.
No mesmo mês, deu entrevista ao apresentador Ivan Moré, do “Esporte Espetacular”. No mês seguinte, recebeu o apresentador Luciano Huck em sua casa, em Barcelona, na véspera da Copa do Mundo. Em julho, participou do “Fantástico”, com Tadeu Schmidt e Renata Vasconcellos. Em dezembro, voltou a atender o “Esporte Espetacular”, em Barcelona.
Em 2015, deu entrevistas exclusivas a profissionais da Globo e participou de um quadro do “Globoesporte”, em que atendeu a equipe do programa enquanto passeava de carro em Praia Grande (SP). Em agosto, fez uma participação especial na novela “A Regra do Jogo”.
(...) O pai de Neymar se queixa da edição de entrevista do filho ao “Fantástico” logo após o Mundial.
“Tinha sido garantido que a entrevista seria gravada e, caso algum assunto, pergunta ou resposta não fosse adequada, poderia solicitar que fosse excluída”, afirma."
A situação fica ainda mais constragedora.
Até de novela, o contratado Neymar participou
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"Auxiliares do atleta reclamavam a diretores de conteúdo de veículos ligados ao Grupo Globo. Documentos no processo também mostram envio de textos sobre o jogador para que os gestores de sua carreira avaliassem antes da publicação.
Questionadas sobre a interferência no conteúdo jornalístico da Globo ou se o acordo previa exclusividade, a emissora e as empresas de Neymar não responderam."
Como o texto e a realidade comprovam, a relação naufragou em 2016. O tal contrato de exclusividade não foi renovado. E, por coincidência ou não, com mais liberdade, Galvão Bueno e Casagrande passaram a criticar muito mais o atacante. O jogador também passou a recusar entrevistas, matérias longas e idas aos programas da emissora. Ou seja, passou a tratar a Globo como trata todos os canais de televisão do país. Só fala quando quer, na hora que deseja.
Record, SBT, Fox Sports, como por encanto, passaram a ter a presença do principal do jogador do país.
A revelação do contrato entre Neymar e Globo vem à tona em um momento especialmente dífícil. Quando a relação entre o atleta e a emisssora nunca estave pior. Na semana passada, o principal comentarista da Globo, Casagrande classificou Neymar de 'mimado' e 'monstro', por seu egoísmo e atitude com a camisa do PSG.
O pai de Neymar deu sua resposta. Falou em nome do filho de 26 anos. E chamou Casagrande de abutre.
Na CBF, pessos ligadas o secretário-geral Walter Feldman, garantiam que Tite teria a missão de aproximar a Globo de Neymar, de novo. De Casagrande, de Galvão Bueno. O medo é que a relação piore, a cerca de quatro meses do início da Copa do Mundo.
De qualquer maneira, o contrato mostrou algo que todo jornalista percebia na cobertura da Seleção Brasileira. E até os que trabalham na Europa e que cobriam o Barcelona.
Neymar privilegiava a Globo de forma escancarada.
Neymar era tratado como um rei pela Globo
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Era tratado como um rei.
A relação era comercial.
De um empregador e funcionário.
Neymar ganhava dinheiro pelo contrato.
Agora, como jogador mais caro do mundo, não precisa.
E trata a Globo apenas como uma emissora a mais.
Assim como sempre fez com as concorrentes.
Demorou, mas a verdade veio à tona.
E explica muita coisa.
Não só em 2014 e 2015.
Mas, principalmente, agora.
Quando não há mais o vínculo.
Os profissionas estão livres para criticar o jogador.
O contrato não tinha nada de ilegal.
Mas era completamente imoral...
Neymar e Globo. Relação entre patrão e contratado
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