Criado no início da gestão de Alexandre Campello, o setor psicossocial do Vasco não parou durante o isolamento provocada pela pandemia da Covid-19. Mesmo remotamente, segue em curso normal o atendimento a atletas, funcionários e até mesmo a membros de organizadas, sobretudo mulheres que sofrem abuso dentro de casa. Tal suporte evitou tragédias e permitiu que pessoas procurassem o clube a fim de resolver questões delicadas.
Idealizadora do projeto "De cara para o gol nos campos dos direitos" e da criação do setor psicossocial dentro do Vasco, Sonia Maria Andrade, segunda vice-presidente do clube, orgulha-se do trabalho realizado durante o isolamento.
O Vasco volta a jogar neste domingo no Campeonato Carioca contra o Macaé, às 16h, em São Januário, e, na véspera, Sonia conversou com o GloboEsporte.com sobre o atendimento aos atletas do elenco, mas destacou que o grande acerto do setor psicossocial foi pensar na questão psicológica de de pessoas que estão no entorno do clube. E também de encorajá-las a procurar apoio.
- Olhem para as pessoas. Esse é o legado dessa pandemia. Eu acho que a gente tem que levar para a sociedade a seguinte mensagem: independentemente da alimentação, que temos de ajudar as pessoas a terem, e da parte de higiene pessoal, que temos de ter para as pessoas a fim de evitar que a doença chegue, nós temos que tratar as pessoas e olhar para elas. Porque essas pessoas vão sair dessa pandemia com alguma sequela. E a parte psicológica tem que ser olhada de perto. Acho que esse o grande legado que o Vasco deixa de essa pandemia.
Confira outros tópicos do papo com Sonia Andrade:
O Vasco volta a jogar neste domingo, contra o Macaé. Como tem sido as conversas entre a Maíra Ruas (psicóloga do clube) e os atletas? Há alguma questão em comum levada por eles à Maíra?- O trabalho tem sido desenvolvido não só com os atletas de uma maneira geral, mas também com funcionários e também fizemos atendimentos com integrantes de organizadas. A Maíra, como responsável do departamento psicológico, tem feito o atendimento remotamente. E um grande ponto que a gente vê em todos os segmentos, seja com atletas, famílias ou funcionários, é a angústia com o confinamento. Você imagine um atleta, que tem de treinar diariamente para manter forma, ter que improvisar seu treinamento dentro de casa?
Isso acaba trazendo para as pessoas uma certa angústia. "Será que vai voltar? Será que eu volto? Como fica a situação financeira do clube?". Isso tudo são demandas que são trazidas para o departamento psicológico, que vem conversando e empoderando essas pessoas. Às vezes essas pessoas não têm noção do potencial delas para passar por essa pandemia e tirar disso um fortalecimento para a vida futura dela.
Mas há algo mais genérico, em comum, entre os atletas profissionais que é levado à Maíra?- Primeiro a questão financeira. Imagine a incerteza de receber porque todo o clube parou. Não existe patrocínio, não existe receber dinheiro pela questão da imagem deles. O clube estava funcionando e no dia seguinte deixou de funcionar. A angústia do atleta é: "Será que vai ter campeonato? Será que vamos ter condição de jogar? Como vai ficar o futebol com a pandemia?".
Todo esse trabalho foi feito diretamente pela Maíra com eles. "Temos de ter paciência, vai ser uma etapa após a outra". É uma coisa nova para todos os segmentos da sociedade, não só para o futebol. Como diz um médico amigo meu, quem disser que sabe alguma coisa sobre essa doença está mentindo. Cada dia você aprende um pouquinho sobre ela.
Então essa construção de "Vamos passar juntos, calma". Isso foi um aprendizado de dia a dia escutando atletas, funcionários e torcedores.
Qual era a dinâmica do atendimento aos atletas?- Todas às vezes que ela foi contactada, ela fazia o atendimento diante da necessidade de cada atleta. O atleta detectou algum problema? Ele era direcionado ao departamento psicológico, e a Maíra fazia o atendimento de acordo com a demanda que eles apresentavam.
E como é a questão do atendimento a torcedoras que sofreram abuso em casa?- Você sabe que aqui no Rio de Janeiro houve um aumento em 50% da violência contra a mulher. Nós logicamente fizemos um trabalho de empoderamento dessas mulheres. Indicando de que forma poderiam procurar o atendimento. Inclusive o Ministério Público lançou uma campanha que a mulher entra na farmácia e marca um X na mão para que as pessoas detectem que ela sofrendo uma violência.
Você denunciar uma pessoa que está praticando violência dentro de casa com essa pessoa é um risco muito grande. Esse trabalho de consciência foi feito não só com a pessoa que sofria a violência, mas também com toda a família. Então tivemos vários pontos positivos, porque muitas pessoas pediram para procurar atendimento.
Às vezes é um problema de um distúrbio, a pessoa não consegue visualizar, e, a partir do acompanhamento, ela observa que está doente. Nós ajudamos essas pessoas a se empoderarem e a procurarem o atendimento. Não digo só quem estava sofrendo violência, mas também quem praticou a violência. Espero que é um trabalho que dure do Vasco, independentemente das eleições no fim do ano. A gente está fazendo um trabalho de acolhimento das pessoas. Acho que isso é o legado que devemos deixar dentro do clube.
Você contou que um garoto desenvolveu uma "Covid psicológica" durante o isolamento e que a equipe psicossocial conseguiu demovê-lo dessa ideia. Como foi esse processo?- Ele começou a apresentar sintomas, e a mãe entrou em contato com o nosso departamento e começou a expor o que o menino estava apresentando. Elas começaram a conversar com o menino, ele foi atendido por médicos, e aí foi constatado que a Covid que ele tinha era psicológico. Ele ligava a televisão, e era o dia inteiro: "Covid, Covid e sintomas".
Aí ele começou apresentar sintomas que não tinha. Começou a tossir, dizer que estava com dor de cabeça e passando mal. Começou a assimilar a questão da doença para si. E o departamento psicossocial começou a desconstituir isso da cabeça dele, e ele conseguiu sair desse quadro.
Você citou o trabalho da Maíra quando lhe perguntei sobre o futebol profissional. Há outras pessoas que gostaria de mencionar?A Iara (da Costa Machado, assistente social e coordenadora do setor) 100%. O Campello também. No primeiro dia em que as profissionais me procuraram com o objetivo de manter o atendimento durante a pandemia, eu levei para ele. De imediato, ele disse: "Vamos fazer. Se vocês acham que têm condição de fazer, vamos fazê-lo".
O grupo poderia querer fazer, e o presidente poderia não autorizar. O Campello não só autorizou, mas também abraçou na questão da doação de alimentos. Campello foi para o Vasco, separou alimentos e foi para a Barreira do Vasco e para a Cidade de Deus fazer doações. O presidente encampou as ações como se dele fossem. Achei isso muito positivo.
Essas doações citadas por você estão englobadas no projeto "Vasco Solidário". Esse projeto também está sob a batuta da equipe psicossocial?O "Vasco Solidário" está no clube desde o dia em que nasceu, quando disse não ao racismo. O DNA do Vasco é solidário. O "Vasco Solidário" está em todos os departamentos do clube.
Fonte: GloboEsporte.com
Idealizadora do projeto "De cara para o gol nos campos dos direitos" e da criação do setor psicossocial dentro do Vasco, Sonia Maria Andrade, segunda vice-presidente do clube, orgulha-se do trabalho realizado durante o isolamento.
O Vasco volta a jogar neste domingo no Campeonato Carioca contra o Macaé, às 16h, em São Januário, e, na véspera, Sonia conversou com o GloboEsporte.com sobre o atendimento aos atletas do elenco, mas destacou que o grande acerto do setor psicossocial foi pensar na questão psicológica de de pessoas que estão no entorno do clube. E também de encorajá-las a procurar apoio.
- Olhem para as pessoas. Esse é o legado dessa pandemia. Eu acho que a gente tem que levar para a sociedade a seguinte mensagem: independentemente da alimentação, que temos de ajudar as pessoas a terem, e da parte de higiene pessoal, que temos de ter para as pessoas a fim de evitar que a doença chegue, nós temos que tratar as pessoas e olhar para elas. Porque essas pessoas vão sair dessa pandemia com alguma sequela. E a parte psicológica tem que ser olhada de perto. Acho que esse o grande legado que o Vasco deixa de essa pandemia.
Confira outros tópicos do papo com Sonia Andrade:
O Vasco volta a jogar neste domingo, contra o Macaé. Como tem sido as conversas entre a Maíra Ruas (psicóloga do clube) e os atletas? Há alguma questão em comum levada por eles à Maíra?- O trabalho tem sido desenvolvido não só com os atletas de uma maneira geral, mas também com funcionários e também fizemos atendimentos com integrantes de organizadas. A Maíra, como responsável do departamento psicológico, tem feito o atendimento remotamente. E um grande ponto que a gente vê em todos os segmentos, seja com atletas, famílias ou funcionários, é a angústia com o confinamento. Você imagine um atleta, que tem de treinar diariamente para manter forma, ter que improvisar seu treinamento dentro de casa?
Isso acaba trazendo para as pessoas uma certa angústia. "Será que vai voltar? Será que eu volto? Como fica a situação financeira do clube?". Isso tudo são demandas que são trazidas para o departamento psicológico, que vem conversando e empoderando essas pessoas. Às vezes essas pessoas não têm noção do potencial delas para passar por essa pandemia e tirar disso um fortalecimento para a vida futura dela.
Mas há algo mais genérico, em comum, entre os atletas profissionais que é levado à Maíra?- Primeiro a questão financeira. Imagine a incerteza de receber porque todo o clube parou. Não existe patrocínio, não existe receber dinheiro pela questão da imagem deles. O clube estava funcionando e no dia seguinte deixou de funcionar. A angústia do atleta é: "Será que vai ter campeonato? Será que vamos ter condição de jogar? Como vai ficar o futebol com a pandemia?".
Todo esse trabalho foi feito diretamente pela Maíra com eles. "Temos de ter paciência, vai ser uma etapa após a outra". É uma coisa nova para todos os segmentos da sociedade, não só para o futebol. Como diz um médico amigo meu, quem disser que sabe alguma coisa sobre essa doença está mentindo. Cada dia você aprende um pouquinho sobre ela.
Então essa construção de "Vamos passar juntos, calma". Isso foi um aprendizado de dia a dia escutando atletas, funcionários e torcedores.
Qual era a dinâmica do atendimento aos atletas?- Todas às vezes que ela foi contactada, ela fazia o atendimento diante da necessidade de cada atleta. O atleta detectou algum problema? Ele era direcionado ao departamento psicológico, e a Maíra fazia o atendimento de acordo com a demanda que eles apresentavam.
E como é a questão do atendimento a torcedoras que sofreram abuso em casa?- Você sabe que aqui no Rio de Janeiro houve um aumento em 50% da violência contra a mulher. Nós logicamente fizemos um trabalho de empoderamento dessas mulheres. Indicando de que forma poderiam procurar o atendimento. Inclusive o Ministério Público lançou uma campanha que a mulher entra na farmácia e marca um X na mão para que as pessoas detectem que ela sofrendo uma violência.
Você denunciar uma pessoa que está praticando violência dentro de casa com essa pessoa é um risco muito grande. Esse trabalho de consciência foi feito não só com a pessoa que sofria a violência, mas também com toda a família. Então tivemos vários pontos positivos, porque muitas pessoas pediram para procurar atendimento.
Às vezes é um problema de um distúrbio, a pessoa não consegue visualizar, e, a partir do acompanhamento, ela observa que está doente. Nós ajudamos essas pessoas a se empoderarem e a procurarem o atendimento. Não digo só quem estava sofrendo violência, mas também quem praticou a violência. Espero que é um trabalho que dure do Vasco, independentemente das eleições no fim do ano. A gente está fazendo um trabalho de acolhimento das pessoas. Acho que isso é o legado que devemos deixar dentro do clube.
Você contou que um garoto desenvolveu uma "Covid psicológica" durante o isolamento e que a equipe psicossocial conseguiu demovê-lo dessa ideia. Como foi esse processo?- Ele começou a apresentar sintomas, e a mãe entrou em contato com o nosso departamento e começou a expor o que o menino estava apresentando. Elas começaram a conversar com o menino, ele foi atendido por médicos, e aí foi constatado que a Covid que ele tinha era psicológico. Ele ligava a televisão, e era o dia inteiro: "Covid, Covid e sintomas".
Aí ele começou apresentar sintomas que não tinha. Começou a tossir, dizer que estava com dor de cabeça e passando mal. Começou a assimilar a questão da doença para si. E o departamento psicossocial começou a desconstituir isso da cabeça dele, e ele conseguiu sair desse quadro.
Você citou o trabalho da Maíra quando lhe perguntei sobre o futebol profissional. Há outras pessoas que gostaria de mencionar?A Iara (da Costa Machado, assistente social e coordenadora do setor) 100%. O Campello também. No primeiro dia em que as profissionais me procuraram com o objetivo de manter o atendimento durante a pandemia, eu levei para ele. De imediato, ele disse: "Vamos fazer. Se vocês acham que têm condição de fazer, vamos fazê-lo".
O grupo poderia querer fazer, e o presidente poderia não autorizar. O Campello não só autorizou, mas também abraçou na questão da doação de alimentos. Campello foi para o Vasco, separou alimentos e foi para a Barreira do Vasco e para a Cidade de Deus fazer doações. O presidente encampou as ações como se dele fossem. Achei isso muito positivo.
Essas doações citadas por você estão englobadas no projeto "Vasco Solidário". Esse projeto também está sob a batuta da equipe psicossocial?O "Vasco Solidário" está no clube desde o dia em que nasceu, quando disse não ao racismo. O DNA do Vasco é solidário. O "Vasco Solidário" está em todos os departamentos do clube.
Fonte: GloboEsporte.com
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