Escrevo essas reflexões de pirilampos no Dia do Jornalista, 7 de abril. Apesar da data comemorativa, nossa categoria não tem motivos para comemorar. Nunca a imprensa brasileira foi tão atacada em plena democracia por um genocida. É que, realmente, me recuso a chamar um genocida de presidente. Tenho asco a quem espalha fake news porque foram elas, as notícias fabricadas no gabinete do ódio, que elegeram o genocida. Mas mentira tem pernas curtas, quase amputadas pela dura realidade que nosso país-continente enfrenta com a pandemia.
A previsão de cientistas renomados é de que teremos, neste mês, o maior número de mortes pela covid-19, doença que o genocida classificou como ‘gripezinha’ e ‘daí’ que ele não é ‘coveiro’. É apenas um genocida que promove constantes ataques à imprensa e à liberdade de expressão. A pandemia já matou mais de 169 jornalistas brasileiros. O país-continente registrou o maior número de profissionais da imprensa mortos por covid-19 no mundo, superando o Peru, que registra um índice abaixo de 140 mortes. Os dados fazem parte do dossiê “Jornalistas vitimados por covid-19”, elaborado pela Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), instituição que todo jornalista, com compromisso ético e social com a profissão, deveria se filiar e contribuir com a luta de uma categoria que sempre foi estigmatizada por pessoas e instituições que não são muito alinhadas à democracia e nem ao direito constitucional de obtermos informações de qualidade e com veracidade.
Sou jornalista diplomado desde 1998 e vivenciei a transição da máquina de escrever para os teclados dos computadores. Na faculdade, observei vários arquétipos de jornalistas, aqueles que faziam o curso e desconsideravam a função social da profissão, outros que cursavam jornalismo porque existia, à época, um certo glamour em ser jornalista. Nunca vivi essa glamourização.
Jornalista bom é aquele que incomoda as estruturas cristalizadas de poder, é o profissional que contribui com a causa sindical e com melhores condições de trabalho e renda para a categoria. O jornalista é o porta-voz da sociedade, não essa sociedade autoproclamada como ‘cidadãos de bem’, mas a maioria da população que não tem acesso a direitos básicos garantidos pela Constituição Cidadã de 1988. O bom jornalista é aquele que honra sua profissão cotidianamente e que leva a sério a apuração dos fatos. O bom jornalista é aquele que, mesmo no colapso sanitário que vivenciamos, trabalha com o objetivo de levar informações de interesse público para dar voz aos excluídos por um sistema político que legitimou um desgoverno autoritário, patriarcal e tecnocrata.
Acesse o dossiê da Fenaj aqui https://fenaj.org.br/wp-content/uploads/2021/04/DOSSIE-FENAJ-COVID19_MARCO_2021.pdf
Éverlan Stutz
Jornalista diplomado pelo Centro Universitário de Belo Horizonte.
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