A worker carries LPG gas cylinders in front of a wall art of Brazils flag drawn on a wall in Kolkata , India , on 7 June 2021 . This year , Brazil is all set to host Copa America 2021 , which is scheduled to start from 14th of June according to media reports . (Photo by Debarchan Chatterjee/NurPhoto) (Photo by Debarchan Chatterjee / NurPhoto / NurPhoto via AFP)
Com a maior média de mortos do planeta, América do Sul é o local mais arriscado para se fazer um torneio de futebol neste momento
A Copa América 2021 começou dia 13 de junho, no momento em que o Brasil tem uma média móvel de pessoas infectadas acima de 66 mil casos diários e uma média de quase 2 mil óbitos a cada 24 horas. O torneio organizado pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) acontece no momento em que a América do Sul registra os maiores coeficientes de incidência e mortalidade do mundo. Por conta dos riscos de contágio e de mortes – que aumentam com as viagens e a circulação de atletas, jornalistas e outras pessoas envolvidas na atividade – a Colômbia e a Argentina desistiram de hospedar o evento. Porém, numa articulação entre o ex-presidente da CBF, Rogério Caboclo (afastado do cargo após a denúncia de assédio sexual e moral) e o presidente Jair Bolsonaro, o torneio foi programado para os gramados nacionais.
O jogo de abertura, entre as seleções do Brasil e da Venezuela, está agendado para o final da tarde de domingo, no Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília. No sábado, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal informou que 12 membros da delegação da Venezuela (cinco jogadores e sete membros da comissão técnica) ficaram isolados em um hotel na Asa Norte, em Brasília, após testarem positivo para a covid-19. Segundo o Ministério da Saúde, o Distrito Federal registrou no dia 12/06 um coeficiente acumulado de incidência de 137,6 mil casos por milhão de habitantes (a média mundial é de 22,6 mil) e um coeficiente de mortalidade de 2.959 óbitos por milhão de habitantes (a média mundial é de 488). Ou seja, o Brasil está sediando uma Copa pandêmica na América do Sul.
O gráfico abaixo, do jornal Financial Times, mostra a média móvel de 7 dias do número de mortes da covid-19 no mundo, decomposta por países e regiões. Nota-se que, na dinâmica global, o 1º pico pandêmico ocorreu na semana de 9 a 15 de abril de 2020, com média de 7.031 óbitos diários. O 2º pico ocorreu na semana de 22 a 28 de janeiro de 2021 com média de 14.510 óbitos diários. Entre fevereiro e a primeira quinzena de março, a quantidade de mortes caiu, mas voltou a aumentar e atingiu um 3º pico na última semana de abril. Nos meses de maio e junho os números globais de vítimas fatais estão em queda.
Todavia, a configuração nacional e regional segue ritmos diferenciados. Nos dois primeiros picos, a Europa e os Estados Unidos foram os grandes responsáveis pelo enorme número de vidas perdidas. Mas nos dois últimos meses os destaques são a América Latina e a Índia. Durante todo o mês de maio, um grande surto fez da Índia o epicentro mundial da covid-19. Mas em junho, a América Latina (com 660 milhões de habitantes em 2021) ultrapassou a média de mortes da Índia (com 1,4 bilhão de habitantes). Assim, a Pan América Latina é o atual epicentro da pandemia global.
Copa América: torneio reúne países que batem recordes de casos e de mortes por covid-19
Indubitavelmente, a Copa América em meio à pandemia só se justifica pelo cálculo comercial e político e pela força dos interesses financeiros das confederações que, intencionalmente ou não, contribuem para transformar o futebol em fonte de lucro para poucos e em ópio do povo para muitos. A prioridade atual não deveria ser a competição entre adversários futebolísticos, mas sim a cooperação entre as nações para vencer a morte súbita que tem ceifado tantas vidas. A América Latina não precisa de disputas campais e sim de solidariedade e harmonia para restaurar a saúde nacional e continental.
Os epidemiologistas se posicionaram contra a realização de um campeonato que reúne seleções de países que batem recordes nacionais de casos e de mortes da covid-19. Contudo os conselhos da ciência não encontram eco entre os assessores mais próximos do mandatário máximo da República. O presidente do Brasil insiste em criticar o distanciamento social, sabota o uso de máscaras e desqualifica a efetividade das vacinas. Jair Bolsonaro participou no sábado (12/06) de uma “motociata” nomeada Acelera para Cristo, organizada por simpatizantes evangélicos e por associações de motociclistas. O ato é semelhante aos já realizados no Rio de Janeiro e em Brasília e reuniu grande número de pessoas, promovendo aglomerações, aumentando a probabilidade de transmissão do vírus e contrariando as recomendações das autoridades municipais e estaduais.
A Copa América começa agora e termina em 10 de julho. No dia 21 de junho começa o inverno. Neste ambiente de circulação de pessoas de vários países, de reunião de amigos e familiares para assistir aos jogos em casa ou em bares, de clima mais frio, de briga política quente entre as autoridades das três esferas federativas, de negacionismo científico e de desarmonia entre o poder público e a sociedade civil o que se pode prever, lamentavelmente, é que a terceira onda chegue na forma de um tsunami.
FONTE PROJETO COLABORA
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